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Ética e os Diferentes Tipos de Juízo

Atualizado: 19 de fev.

A ética é um campo da filosofia que busca compreender o que torna uma ação moralmente certa ou errada. Muitas vezes, ao discutir questões morais, podemos nos deparar com diferentes tipos de afirmações, algumas relacionadas a fatos concretos e outras que envolvem julgamentos de valor. É comum que as pessoas confundam essas distinções e assumam que toda discussão moral é apenas uma questão de opinião pessoal ou, ao contrário, que existe uma única resposta absoluta para todas as questões éticas. No entanto, para refletirmos com mais clareza sobre a moralidade das ações, precisamos entender como diferentes tipos de juízo funcionam e de que maneira fundamentamos nossas crenças éticas.

A primeira distinção essencial é entre juízos de fato e juízos de valor. Um juízo de fato descreve a realidade tal como ela é e pode ser verificado empiricamente, por meio da observação ou da lógica. Quando dizemos que "o céu está nublado", podemos comprovar essa afirmação simplesmente olhando para o céu e verificando se há nuvens. Já um juízo de valor não apenas descreve algo, mas avalia se aquilo é bom ou ruim, certo ou errado. Quando afirmamos que "é errado jogar lixo na rua", não estamos fazendo uma constatação objetiva, mas expressando um julgamento baseado em princípios morais. Esses juízos podem variar conforme normas sociais, religiosas ou filosóficas e nem sempre são verificáveis de maneira objetiva, como um fato científico.

Dentro dos juízos de valor, há diferentes categorias. Os juízos morais avaliam se uma ação é eticamente aceitável ou condenável, como quando dizemos que "roubar é errado". Os juízos jurídicos estão baseados em normas legais, como "dirigir sem carteira de motorista é ilegal". Já os juízos estéticos tratam de avaliações subjetivas sobre beleza ou qualidade, como na afirmação "esta pintura é uma obra-prima". Enquanto os juízos de fato podem ser testados e verificados, os juízos de valor exigem argumentação e justificação, pois dependem de princípios e normas que podem ser discutidos e até mesmo contestados.

A ética, ao contrário do que alguns podem pensar, não se baseia apenas em preferências individuais, mas pode ser fundamentada em diferentes esferas que influenciam nossa percepção do certo e do errado. A primeira delas é a moral pessoal, que se refere ao conjunto de valores que um indivíduo adota ao longo da vida, influenciado por fatores como religião, família e ética profissional. Esses valores costumam guiar nossas ações cotidianas e são responsáveis por nossa noção inicial de certo e errado. No entanto, o que consideramos moralmente correto em nível pessoal nem sempre pode ser aplicado universalmente. Um indivíduo pode, por exemplo, acreditar que o consumo de carne é errado por convicções pessoais, mas isso não significa que todas as pessoas devem seguir essa mesma regra.

A moral social, por sua vez, é determinada pelos costumes, normas e valores predominantes em uma sociedade. Ela reflete o que uma cultura específica considera correto ou inaceitável e pode mudar ao longo do tempo. Normas sociais, leis e expectativas coletivas moldam essa moralidade, que pode variar de um país para outro ou entre diferentes períodos históricos. No passado, por exemplo, a escravidão era amplamente aceita em diversas sociedades, mas, com o tempo, os valores morais mudaram e essa prática passou a ser condenada globalmente. Isso mostra que o fato de algo ser aceito por uma sociedade em determinado momento não significa que seja moralmente justificável.

Por fim, há a moral universal, também chamada de ética racional. Esse tipo de fundamentação busca estabelecer princípios que possam ser aplicados independentemente de crenças pessoais ou culturais. Em vez de depender de tradições ou convenções sociais, a ética racional se baseia na coerência lógica e na argumentação filosófica. Alguns exemplos de princípios universais são os direitos humanos, que defendem a dignidade e a igualdade de todas as pessoas, e a Regra de Ouro, presente em diversas tradições filosóficas e religiosas: "trate os outros como gostaria de ser tratado". Outro exemplo é o Imperativo Categórico, formulado pelo filósofo Immanuel Kant, que afirma que devemos agir apenas segundo máximas que poderiam se tornar uma regra universal válida para todos.

Essas três formas de fundamentação – pessoal, social e universal – mostram que a ética não é uma questão puramente subjetiva nem completamente relativa às normas culturais. Há juízos morais construídos com base em valores individuais, outros que emergem das regras da sociedade e ainda aqueles que buscam princípios lógicos e universais para guiar nossas ações. Compreender essas distinções nos permite argumentar de maneira mais fundamentada sobre dilemas éticos, reconhecer quando nossas crenças são influenciadas por fatores externos e avaliar criticamente se um princípio moral pode ser justificado de forma racional.


Referências:

HUEMER, Michael. Knowledge, Reality, and Value: A Mostly Common Sense Guide to Philosophy. 1. ed. Independently published, 2021.

STICH, Stephen; DONALDSON, Tom. Philosophy: Asking Questions – Seeking Answers. 1. ed. New York: Oxford University Press, 2018.

RAUHUT, Nils Ch. Ultimate Questions: Thinking about Philosophy. 3. ed. New York: Pearson, 2012.

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