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Relativismo e Egoísmo: A Moralidade é Apenas uma Questão de Opinião?

Muitas vezes, ao discutirmos questões morais, encontramos diferentes perspectivas sobre o que é certo ou errado. Algumas pessoas acreditam que a moralidade é completamente relativa, isto é, que não existem verdades morais universais e que tudo depende do ponto de vista de cada indivíduo ou cultura. Mas será que essa visão faz sentido?

Para entender melhor essa questão, precisamos diferenciar três ideias comuns no debate moral: o subjetivismo ético, o relativismo cultural e o egoísmo moral. Todas essas posições compartilham o ponto de negar a existência de uma moralidade objetiva, sustentando que o que é certo ou errado depende de fatores externos – sejam eles a opinião pessoal, os costumes culturais ou o benefício individual.

O subjetivismo ético defende que o certo e o errado dependem exclusivamente do que cada pessoa acredita. Se alguém acha que uma ação é moralmente aceitável, então ela é correta para essa pessoa, independentemente das opiniões dos outros. Essa visão pode promover tolerância e respeito pelas diferenças individuais, evitando imposições morais rígidas. No entanto, o problema é que, se cada indivíduo define sua própria moralidade, ninguém pode estar errado sobre questões morais. Isso tornaria impossível discutir ou questionar práticas problemáticas, já que qualquer ato poderia ser justificado como “certo para mim”. Por exemplo, imagine alguém que defende que trapacear em uma prova é aceitável porque não prejudica diretamente outra pessoa. Se o subjetivismo fosse verdadeiro, não haveria como argumentar contra essa atitude, pois, para essa pessoa, trapacear seria uma escolha moral válida. Assim, essa visão enfraquece o próprio conceito de moralidade, tornando-o uma questão meramente de gosto pessoal.

Em contraste, o relativismo cultural afirma que o certo e o errado são determinados não pelo indivíduo, mas pela sociedade em que se vive. Algo é moralmente correto se a cultura de um grupo o considera aceitável e errado se essa mesma cultura o condena. Essa perspectiva explica por que diferentes culturas possuem costumes e normas morais distintos e valoriza o respeito às tradições, evitando julgamentos etnocêntricos. Contudo, se a moralidade fosse apenas uma questão cultural, não poderíamos criticar práticas imorais em outras sociedades nem justificar mudanças morais. Práticas que foram comuns por séculos – como a escravidão ou a desigualdade de gênero – nunca poderiam ser consideradas erradas, pois já eram aceitas em diversas culturas. Se a moralidade dependesse exclusivamente dos costumes, o progresso moral perderia sentido, já que não haveria justificativa para dizer que algo precisa mudar.

O egoísmo moral (ou egoísmo ético) defende que o que é certo é aquilo que beneficia a própria pessoa. Diferente do subjetivismo, que afirma que qualquer crença individual é válida, o egoísmo moral tenta criar um critério objetivo baseado no interesse próprio. Essa ideia pode parecer razoável, uma vez que muitas vezes buscamos vantagens para nós mesmos, e algumas teorias econômicas sugerem que o mercado e a sociedade se organizam naturalmente quando cada um age pelo próprio interesse. Porém, se o egoísmo fosse a única base da moralidade, explorar e prejudicar os outros seria aceitável, desde que isso trouxesse benefícios para quem age. Assim, o egoísmo moral prejudicaria a noção de justiça, já que ninguém seria incentivado a ajudar o próximo se o que importasse fosse sempre o ganho individual. Por exemplo, se um empresário paga salários injustos para aumentar seus lucros, estaria agindo corretamente segundo o egoísmo moral, mas essa lógica, se seguida por todos, levaria à exploração e ao colapso da cooperação social.

É importante, também, distinguir o egoísmo psicológico do egoísmo moral. O egoísmo psicológico é uma visão descritiva que afirma que todas as ações humanas são motivadas pelo interesse próprio, mesmo quando parecem altruístas. Essa teoria não é normativa – ou seja, ela não diz como as pessoas deveriam agir –, mas sim como supostamente agem na prática. Se o egoísmo psicológico fosse verdadeiro, a possibilidade de agir de forma genuinamente altruísta desapareceria, e a moralidade perderia seu sentido, pois não poderíamos esperar que as pessoas agissem pelo bem comum.

Em suma, o subjetivismo ético, o relativismo cultural e o egoísmo moral tentam explicar por que diferentes pessoas e sociedades possuem valores distintos. No entanto, essas ideias criam contradições significativas: se cada um define sua própria moralidade, não há como dizer que alguém está errado; se a moralidade é apenas cultural, não podemos criticar injustiças nem promover mudanças; e se o egoísmo for a base da ética, o respeito e a cooperação entre as pessoas são comprometidos. Portanto, para que possamos debater e progredir moralmente, precisamos de critérios que permitam questionar e melhorar as normas morais, garantindo dignidade e respeito para todos. Sem esses princípios universais, a própria ideia de justiça desaparece.


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