Platão: Ética
- Rodrigo R de Carvalho
- 28 de fev.
- 3 min de leitura
Como vimos a ética é uma ciência de conduta na qual devemos, através da razão, determinar nossa ação, o objetivo máximo é a Felicidade (Eudaimonia). Tanto em Sócrates, quanto nas éticas helênicas temos essa característica de busca da felicidade Intramundana, isto é, realização do ser humano nesta vida, aqui e agora, dependendo somente do esforço deste, seja para se alçar num ascetismo racional que sincroniza a sua vontade a do cosmo, seja para conhecer escolher entre virtudes e vícios.
O intelectualismo ético de Sócrates não gera como herdeiro apenas os helênicos, mas também Platão. Assim como seu mestre, Platão também pensa a ética como busca da felicidade, como conhecimento e prática do Bem, no entanto, diferente dele e dos helênicos ele vê o Bem como uma ideia transcendente, independente do ser humano, não empírica.
Este Bem absoluto, ao qual se refere Platão, é uma ideia que irradia ordem e harmonia para todo cosmo e, por consequência, para a alma humana. A alma humana deve guiar o corpo segundo as ideias absolutas do Bem, do Belo e do Verdadeiro, elas são os polos de atração e a finalidade última do ser humano. O corpo, assim como os desejos e os sentimentos devem manter-se sob o controle da razão, parte mais nobre da alma, somente assim o ser humano pode se purificar num movimento de ascese que o prepara para se libertar da prisão que o corpo representa para a alma.”[...] enquanto para Sócrates a moral é a arte de ser feliz vivendo bem - para Platão, ao contrário, a moral é a arte de se preparar para uma felicidade que transcende a vida humana”
Como as características de autoconhecimento e autocontrole temos uma felicidade que é interior, não empírica, por exemplo a prática da justiça como virtude máxima. Nela temos a prova de que o ser humano pode ser Rei de si mesmo, e não determinado por seus sentimentos e desejos. Neste sentido o ser humano justo pode gozar de certa satisfação na medida em que não se encontra refém de seu corpo ou das partes menos nobres de sua alma. Lembrando do mito da caverna, o sábio é aquele que depois de se libertar, de contemplar o conhecimento retorna para guiar outros para a liberdade e para a luz.
Sendo assim, toda ação que nos leva a transcendência, que não se pauta pela utilidade sensível é boa. “O que é Bom é digno de amor." tem valor em si e por si mesmo, com efeito a ação é medida, determinada e justificada pela razão. As virtudes chamadas cardeais são: sabedoria prática ou prudência; força ou coragem; justiça e temperança.
A utopia platônica
Platão acaba por ter uma ética que rompe com as normas de conduta, ela é universalista e humanista, passa por cima de todas as divisões de gênero, classe ou geografia. O mais virtuoso deve governar, se lembramos a educação e a organização política de Platão, aquele que governa deve ser filósofo, pois este seria o mais excelente em virtude, esse seria aquele que se afasta de desejos e sentimentos sensíveis referentes ao corpo e dedica-se a transcendência da alma. Ele é o modelo da cidade e deve irradiar uma força que faz com que os cidadãos busquem também a virtude, o filósofo se torna legislador por ser capaz de transformar a sociedade a partir das leis. Uma sociedade governada por leis justas é o máximo de felicidade possível nesta vida terrena, pois a verdadeira Felicidade, está somente em outra vida.
MARITAIN Jacques. A filosofia moral .Rio de Janeiro. Agir, 1973.
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