Os Pré-socráticos I (O trio de Mileto)
- Rodrigo R de Carvalho
- 26 de fev.
- 3 min de leitura
Em nosso texto sobre o surgimento da Filosofia estudamos o tipo de narrativa mítico-religiosa, seu conceito, seus tipos e as diferente maneiras como foi entendido o conceito de mito. Na aula de hoje passaremos ao surgimento da filosofia buscando demonstrar em que consiste sua peculiaridade. Vimos que os problemas da mentalidade mítica muitas vezes são os mesmo com que a filosofia se ocupará, seja a essência e formação da realidade, seja a destinação e salvação da humanidade.
Muito se discute se a filosofia surgiu mesmo na Grécia ou se já existia no oriente, seria ela uma mentalidade teorizante e uma linguagem herdade dos orientais, ou não, ela realmente nasce na Grécia como um milagre provocado por diversos fatores sociais, econômicos, geográficos e políticos. O fato é que aquela mentalidade mito-poética que explicava a formação do mundo com uma teogonia é deixada de lado para uma explicação lógico racional totalmente conectado com a experiência observável.
Os filósofos que inauguraram a filosofia tinham como objetivo desvelar o princípio originário que deu origem a tudo que existe, um elemento originário que serviria como princípio de todos os outros elementos da natureza. Com isso, poderia se explicar de onde partiu essa multiplicidade que vemos no mundo, para eles, ela teria que ter partido de um princípio, de uma unidade.
Tales de Mileto (625 – 558 A.C), a quem se atribui ser não só o primeiro filósofo como também um competente físico e investigador da natureza, foi o primeiro a propor que a realidade deveria ter um princípio uma substância originária que, em transformação constante, acaba por gerar todas as outras. Os argumentos de Tales são o seguinte: Do ponto de vista da observação pelos sentidos nos parece que a terra boia sobre a água; todo alimento é, em maior ou menor grau, úmido; as sementes também têm em si umidade; coisas mortas acabam por perder a água e ressecar. Desses fatos da experiência se conclui que a água é um princípio originário não só da vida, mas de todas as coisas.
Para Tales a essência da realidade residia justamente nesse uno, ele era a realidade por trás de toda aparência, o uno por trás de todo o múltiplo. Justamente este salto para além da matéria que fez de Tales o primeiro filósofo. Ele não explica o comportamento da natureza por imagens ou fábulas, mas sim por regras e normas, por causalidade e processos de geração. A cheia do Nilo, por exemplo, não será justificada através da ação de algum Deus, mas sim por efeito dos ventos ou qualquer outra causação natural.
Assim, Tales é um físico na medida em que desvela tudo que aparece da realidade diante dos sentidos, e é um filósofo na medida em que busca uma verdade mais profunda, uma essência responsável pela unidade de todo o múltiplo que aparece diante dos sentidos.
O discípulo de Tales, Anaximandro (610- 547 A.C), também de Mileto, acabou por seguir os passos do mestre na busca do princípio originário que gerou todas as coisas, no entanto o chamou de apeiron, o ilimitado, algo distinto dos elementos que conhecemos, mas que os gerou. Ele acreditava no eterno movimento se daria pelo fato de a realidade ser compostas por uma unidade em que há conflito de contrários (ex: quente e frio, seco e úmido). Tal princípio ou unidade é imortal e imperecível.
Com isso, Anaximandro coloca o princípio apeiron acima do processo de transformação, ele não é um elemento entre outros, como no caso da água de Tales, mas um indeterminado que é condição do vir-a-ser. Nesta medida Anaximandro dá um passo para além da física alcançando a metafísica.
Já Anaximenes (585-528 A.C), discípulo e continuador de Anaximandro, não aceitou que o princípio originário seria indeterminado e indefinido, para ele tal princípio era o Ar. Através dos processos de condensação e rarefação o Ar daria origem a todas as outras coisas, tais como: o fogo, que era o Ar sofrendo a rarefação; o vento através da condensação do Ar, a nuvem através da condensação do vento, a água através da condensação da nuvem e assim por diante. O Ar é um elemento livre de forma, animado e que não pode ser visto, mas apenas sentido, ele seria a unidade por trás de toda a diversidade da natureza, tal como um espírito que dá unidade ao múltiplo.
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