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Idealismo Político I (Platão)

No texto "Filosofia Política- Introdução" vimos que há uma separação na história da filosofia política acerca da concepção. Na primeira concepção temos a filosofia política marcada pela pergunta "como deve ser?" e na segunda pela pergunta "como de fato é?”, estas duas correntes da filosofia política acabaram sendo designadas pelos nomes de idealismo ou utopismo e realismo.


A filosofia antiga é marcada pela primeira concepção a do utopismo ou idealismo, pois consiste em buscar o ideal: seja de forma de governo; seja de governante, seja de constituição, seja do conceito de justiça. Na concepção grega há uma relação essencial entre política e ética, na qual há uma relação essencial entre virtude, excelência moral e felicidade.


Platão foi um ferrenho opositor a democracia grega entendendo-a como o governo da ralé e dos inaptos. O argumento de Platão seria o seguinte, assim como procurarmos um especialista em medicina para cuidar da saúde, um especialista em mecânica para consertar nosso carro, o governo também deve ser exercido por um especialista. Não nos parece plausível juntarmos um bom número de pessoas e realizarmos uma votação para decidir que remédio ou procedimento deve ser utilizado para promover a saúde, tão pouco para decidir que peças trocar para que o veículo volte a funcionar. A saúde do Estado, analogamente, depende de decisões políticas tomadas após muita reflexão e por alguém competente na matéria.


Para Platão a formação filosófica é condição necessária para ser um bom governante. Com isso, temos na teoria platônica o desenho de uma utopia que visa educar a sociedade de maneira a selecionar os melhores para cada classe, seja para tornar-se artesão, seja para os guerreiros do serviço militar, seja para os governantes.


Para tal as crianças, independente de gênero e classe social, seriam retiradas de sua família e criadas pelo Estado, tendo igualadas todas as condições, a educação visaria desenvolver as virtudes necessárias a cada classe, de modo a cada uma delas cumprir sua função: no caso dos artesãos a produção de bens materiais; os guerreiros a função da defesa da cidade; os guardiões/filósofos a função de construir leis justas e conduzir a cidade através delas.


A formação dos cidadão nessa utopia se daria da seguinte maneira: os dez primeiros anos seriam de treinamento físico; dos dezesseis aos vinte anos teriam o treinamento do espírito, através da literatura e música; dos vinte aos trinta testes teóricos e práticos que determinariam sua classe, uma vez que fosse reprovado neste teste se tornaria um artesão, um membro da terceira classe; dos trinta aos quarenta anos se dedicariam ao estudo da filosofia, os reprovados seguiriam o serviço militar na defesa da cidade, os aprovados tornariam-se guardiões e tomariam parte no governo da cidade.


Cada classe tem uma virtude correspondente a ser desenvolvida em sua alma: A classe dos artesãos (alma de bronze) têm como virtude a temperança ou moderação no controle da parte de sua alma referente aos desejos e na mobilização de suas forças para cumprir sua função na agricultura, artesanato e comércio; os guerreiros (alma de prata) têm como virtude a coragem como sentimento que deve manter sob controle a parte de sua alma responsável pelas emoções (irascível), e assim, cumprir sua missão de defender a cidade sem fugir diante do inimigo; e por último os guardiões (alma de ouro) devem manter a sabedoria como virtude de sua razão, parte mais elevada e importante de sua alma, para que possam governar com justiça, e assim, afastando-se de decisões motivadas por desejos ou por sentimentos.


Deste modo, a filosofia política antiga visa, ora a finalidade da vida associada: o bem, o justo e a felicidade; ora a estrutura do Estado que melhor leve aquelas finalidades: formas de governos e suas características. A política, com efeito, deve perseguir o bem do homem, que neste caso é o aprimoramento de sua alma, o cuidado com sua alma. O dever do Estado e do governo seria promover este aprimoramento do ser humano, a política toca a ética na medida em que visa determinar o que devemos fazer para aperfeiçoar a nós mesmo e a cidade como um todo.


A virtude seria então, no âmbito individual, manter o equilíbrio e a hierarquia entre as partes de sua alma, no âmbito social manter igualmente equilíbrio e a hierarquia entre as classes da sociedade e suas respectivas funções na sociedade. Com isso se chegaria pela virtude a felicidade, tanto individual quanto social. A filosofia política antiga acaba por ser uma educação moral que tem por objetivo melhorar o caráter do ser humano em geral, incluso escravos e mulheres. As cinco virtudes (Aretê) fundamentais para Platão são: Coragem/virilidade; moderação/ temperança; piedade/santidade; justiça/probidade; sabedoria.


Com esta concepção política Platão atinge o coração da democracia e propõe em seu ligar não uma Aristocracia na qual o critério para se governar é a riqueza, mas sim uma Sofocracia em que aqueles com maior sabedoria devem governar, seja um Rei-Filósofo ou um conjunto de guardiões filósofos. A este Rei ou guardiões é vedado o acessoa a propriedades privada ou qualquer forma material de luxo, com isso Platão visa coibir toda forma de corrupção. O modelo democrático vivido por Platão mostrou um governo que não respeita as leis e que não é guiado pela justiça coletiva, mas sim por interesses pessoais ou de grupos de poder.







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