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Filosofia da Religião: Descartes e Pascal

Agostinho defende uma compreensão de religião como essencial ao ser humano. O ser humano é visto como imagem e semelhança de Deus, criado por ele e destinado a buscá-lo em todos os âmbitos de sua vida. Deus se encontra presente não só como criador de tudo que existe, mas como viabilizador de nosso conhecimento do mundo, de nossa salvação e de tudo mais que o homem buscar realizar. Deus também nos garantiu liberdade de escolha para seguirmos o caminho do espírito, nossa destinação ética, ou dele se afastar.

Com René Descartes temos uma transformação importante, conhecido como o primeiro filósofo da modernidade, ele empreendeu uma tentativa de refundar o conhecimento em novas bases. O teocentrismo da idade média é por ele abandonado e em seu lugar ele deseja estabelecer uma base científica para o conhecimento, assim como a matemática a filosofia deveria ter como método a lógica e a dedução. Os argumentos de Descartes não desejam se manter de pé pela força da tradição ou crenças religiosas, mas sim pela força lógica do argumento.


“A filosofia moderna substitui o tema Deus, central na filosofia medieval, pelo tema homem. Com Descartes realiza-se um retomo ao modo de filosofar dos antigos filósofos gregos, que ignoravam qualquer revelação divina e investigavam a realidade do mundo só pela luz natural da razão.” (ZILLES, p. 23)


O primeiro movimento de Descartes foi descartar tudo que poderia se apresentar como enganoso e inseguro, não só as crenças e tradições, mas também todas as impressões vindas dos sentidos, e da própria consciência. Esse método foi conhecido como dúvida hiperbólica., seu objetivo era chegar a uma verdade absoluta, imediata e inquestionável, seu intuito foi por tudo em dúvida e ver se algo resistia o crivo deste método crítico.


“Descartes assumiu a dúvida não para desesperar, mas obter clareza: a) duvidou dos sentidos; b) duvidou do que nos acontece em estado de sono e acordado, pois tais estados não se distinguem essencialmente; c) duvidou de Deus, pois poderia haver um espírito maligno enganador. Não poderia ser tudo uma simples ilusão? Mas uma dúvida tão radical não conduz ao ceticismo?”


O que resta depois deste método seria a primeira ideia clara e distinta: “Penso, logo existo”, a única coisa que não pode ser posta em dúvida é o fato de existirmos, pois somente isso permite questionarmos. A segunda ideia clara e distinta é a de perfeição e infinitude, temos em nossa mente a compreensão do que seja a perfeição e a infinitude mesmo sem experimentar no mundo nada que seja perfeito ou infinito. Descartes se pergunta então de onde partiria tais ideias, tendo em vista que elas não têm sua origem no mundo. Sua resposta é que Deus colocou tais ideias em nós, tal como um artista assina sua obra. Se a perfeição e infinitude não pertence ao mundo e nem a nós elas só poderiam partir de um ser que é perfeito e infinito, sendo Deus perfeito ele tem de existir, pois do contrário não seria perfeito.


“A revolução cartesiana consiste essencialmente em ter ele transferido o lugar da certeza original de Deus para o homem, para a razão humana. Parte-se, agora, da certeza de si próprio para a certeza de Deus. O teocentrismo medieval passa a ser substituído pelo antropocentrismo” (ZILLES, p. 30)


Blaise Pascal (1623-1662) foi outro filósofo a se defrontar com o problema de Deus, no entanto, diferente de Agostinho não recorre ao texto bíblico, também diferente de Descartes não recorrer a pura razão, mas sim ao coração. Seu objetivo é mostra ao ateu e ao libertino a necessidade psicológica de Deus. “O coração tem suas razões que a própria razão desconhece”

Pascal defende que o ser humano se encontra em uma situação existencial de sofrimento, perdido na imensidão do mundo, jogado e desamparado. “Nada em relação ao infinito: tudo em relação ao nada; um ponto intermediário entre tudo e nada. Infinitamente incapaz de compreender os extremos, tanto o fim das coisas como o seu princípio permanecem ocultos num segredo impenetrável» e é-lhe igualmente impossível ver o nada de onde saiu e o infinito que o envolve”

Tal incerteza da vida é o que define o homem para Pascal, sendo assim “Que fará, pois, o homem nesse estado? Duvidará de tudo? Duvidará que desperta, que o beliscam, que o queimam? Duvidará que duvida? Duvidará que existe? Não podemos chegar a este ponto; tenho, como fato, que nunca houve pirronismo efetivo perfeito. A natureza sustenta a razão impotente e impede que extravague até este ponto” (Pascal)

Diante de tamanha incerteza e inquietude é exigida do homem um salto de fé, uma aposta. O “penso, logo sou” de Descartes é substituído por um “creio, logo sou.” Deus não pode ser encontrado através da lógica e do método matemático, nem mesmo é uma crença irracional, mas sim uma aposta um salto de fé dado pelo coração humano que não pode suportar o absurdo da vida. “É o coração que sente Deus, e não a razão. Eis o que é fé: Deus sensível ao coração, não à razão” (Pascal)


“O conhecimento de Deus sem o da própria miséria faz o orgulho. O conhecimento da própria miséria sem o de Deus faz o desespero. O conhecimento de Jesus Cristo encontra-se no meio, porque nele encontramos Deus e nossa miséria” (Pascal)


Já que a razão não pode decidir sobre a existência ou não de Deus temos dois caminhos a seguir: o primeiro seria apostar em sua existência, ganhando assim consolo nessa e na outra vida, estando errado não perderíamos nada; O segundo é apostar em sua inexistência, caso estejamos certos nada perdemos e nada ganhamos, caso estejamos errados e Deus exista tudo perdemos, pois não no pautamos m sua ética. Sendo assim, é para Pascal, racional apostar na existência de Deus, pois “temos todas as chances de ganhar e nenhuma de perder” “apostai, pois, que ele existe, sem hesitar”.


“Se somente se devesse fazer alguma coisa com certeza, nada se deveria fazer pela religião, pois ela não oferece certeza. Mas quantas coisas se fazem a incerteza: viagens marítimas, batalhas! Digo, portanto, que não se deveria fazer absolutamente nada, porque nada é certo; e que há mais certeza na religião do que em vermos o dia de amanhã; pois não é certo que vejamos o amanhã, mas é certamente possível que não o vejamos. Não se pode dizer o mesmo da religião”

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